Terra Legal inicia
regularização fundiária em Boca do Acre prometendo cerca de mil títulos de
propriedade para agricultores e extrativistas.
O
programa pretende concluir até o final deste ano a regularização das Glebas
Novo Axioma e Redenção. Depois seguirá para as áreas que o movimento social e
as comunidades forem indicando.
“Trabalhamos para atender as demandas dos posseiros e agricultores”, explicou
André Melo, Chefe da Divisão de Regularização Fundiária do Acre e responsável
pela fiscalização do trabalho na região.
A
SETAG foi a empresa contratada pelo programa para realizar o cadastramento, o
georreferenciamento e a demarcação das áreas das glebas localizadas na região
de fronteira com o Acre. Os futuros proprietários terão que identificar as divisas dos
lotes com os seus vizinhos. “Nós vamos precisar do apoio dos líderes comunitários e
envolvidos nessas glebas”, diz José Giovane da Silva, coordenador geral do campo da SETAG.
Luzia Santos da Silva,
representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), disse que a audiência é fruto do trabalho do
Fórum de Desenvolvimento Sustentável de Boca do Acre, instituído em setembro de
2011. O primeiro debate proposto foi o
seminário “Debatendo a Regularização Fundiária em Boca do Acre”, realizado em
novembro, e onde estavam presentes INCRA (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária), ITEAM (Instituto de Terras do Amazonas), SPU (Secretaria do
Patrimônio da União) e Terra Legal.
Na
ocasião, Antônio José Braña, Coordenador Regional Extraordinário de
Regularização Fundiária no Acre, descreveu em seu relatório a situação
fundiária atual das glebas do município, concluindo que o Terra Legal e
demais órgãos governamentais têm uma dívida histórica com as famílias do lugar.
“Passamos três dias
debatendo e fazendo uma agenda com cada instituição do governo. A reunião de
hoje é uma vitória de cada um de nós, do seringueiro, do agricultor”, afirmou Luzia
durante a audiência.
A coordenadora do Fórum
também relembrou a história do despejo do KM 38 da BR-317, que aconteceu há 30
anos: “Várias famílias tiveram suas
terras tomadas. Mas com a luta conseguiram voltar e estão até hoje vivendo em
cima dessa terra com o título definitivo. Isso porque se organizaram e lutaram.
Então, a luta continua”.
Durante a audiência, Braña
comentou sobre a história fundiária de Boca do Acre, desde os tempos da
revolução acreana e da fundação da Vila Floriano Peixoto até o declínio da
exploração da borracha: “Com a chegada do INCRA na década de 70, o órgão
arrecadou vários títulos de terra dos seringalistas falidos e grileiros que
foram repassados para os trabalhadores da seringa. Nessa época concedeu 661
títulos”.
O coordenador do programa
também explicou que por falta de recursos financeiro e humano há 20 anos o
INCRA não concede um título de propriedade em Boca do Acre. O Terra Legal, que
trabalha em terras federais, com exceção das áreas de várzea, pertencentes à
SPU, surgiu em 2009 para acelerar o processo de regularização fundiária na
Amazônia Legal.
Conflitos pela terra
O caso do Seringal Macapá foi
comentado durante a audiência. Em julho de 2009, uma ação de despejo removeu as
mais de 100 famílias que viviam no lugar. Os posseiros, que passaram seis meses
acampados às margens da BR-317, até uma decisão judicial devolver a terra para eles,
pedem a desapropriação da área ocupada pela Fazenda Caçula e sua destinação
para regularização fundiária dentro do Terra Legal.
Maristela Lopes da Silva,
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Boca
do Acre, destacou o dia 15 de agosto do ano passado, quando mais de 300
produtores rurais e extrativistas acamparam na unidade local do INCRA para
reivindicar a garantia de seus direitos fundiários e a proteção daqueles que
vêm sofrendo constantes ameaças de morte por conta de conflitos agrários e
tensões nas suas comunidades.
“Esperamos que não fique
apenas na vinda do Terra Legal, mas que outros órgãos também venham regularizar
as terras que lhe são competentes”, pede Maristela, enfatizando a urgência da
demarcação da Terra Indígena Valparaíso do povo Apurinã: “Peço que seja
definida logo a parte que pertence aos índios e que seja feita a regularização
da terra dos ribeirinhos que vivem lá há 60, 70 anos”.
Antônio Apurinã, que este
ano teve sua casa incendiada, explicou que “não existe conflito entre os índios
e ribeirinhos e que o problema são os invasores que não respeitam a área e
entram para retirar madeira e caça”.
A Coordenadora Regional da
FUNAI (Fundação Nacional do Índio) em Rio Branco, Maria Evanízia dos Santos, disse
durante a audiência que “a constituição do Grupo Técnico (GT) para os estudos
antropológicos da TI Valparaíso estava prevista para este ano mas deve ficar
para 2013”.
Além dessa, mais oito
terras indígenas em Boca do Acre estão com processo de demarcação paralisado há mais de 10 anos: Iquirema
e Goiaba (Jamamadi), Monte e Primavera
(Apurinã), Lourdes (Jamamadi e Apurinã ) e São Paulino e Kaiapucá (Jaminawa).
Clique aqui para ler a Ata da Audiência Pública
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