sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MPF instaura inquérito civil para tratar da regularização fundiária das unidades de conservação do Amazonas


A urgente necessidade de se promover a regularização fundiária de Reservas Extrativistas e Florestas Nacionais no estado do Amazonas levou o Ministério Público Federal a instaurar, no dia 18 de setembro, um inquérito civil público para ir ao fundo da questão.

A decisão do MPF do Amazonas aconteceu dias depois do fórum “Diálogo Amazonas: regularização fundiária urgente”, que reuniu lideranças extrativistas das regiões do Baixo Rio Negro, Médio Solimões, e Sul do Amazonas, diferentes órgãos do governo federal e estadual, e MPF do Amazonas, no dia 14 de setembro, no Parque Municipal do Mindu, em Manaus.

Durante o evento, organizado pelo Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), Comissão Pastoral da Terra (CPT), e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), as lideranças do Amazonas expuseram a situação de 13 UCs que têm problemas fundiários comuns: presença de terras estaduais, títulos privados em áreas com presença de comunidades tradicionais, a existência de terras federais não destinadas, como as do Terra Legal, e sobreposição de terras indígenas e UCs de proteção integral.

Após muita discussão, foi criado um Grupo de Trabalho (GT), liderado pelo MPF e formado por representantes dos Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), do Instituto de Terras no Amazonas (ITEAM), do Programa Terra Legal, do CNS, da CPT e do IEB.  O objetivo do GT é elaborar um Plano de Trabalho com metas, responsabilidades e prazos, que será o objeto de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

A regularização fundiária é o gargalo para se alcançar a efetiva implementação das UCs no Brasil. Grande parte não tem sua situação fundiária resolvida. “É uma das agendas mais essenciais. Não tem como falar em unidade de conservação se não tem regularização fundiária em sua plenitude”,  explicou João Arnaldo Novaes, diretor do ICMBio, no evento.

Para o procurador da República, Leonardo Andrade Macedo, “a questão fundiária das comunidades tradicionais é uma questão ambiental. A preservação do meio ambiente depende necessariamente que as comunidades continuem nos seus espaços”.

Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS),  explica que a necessidade da regularização fundiária se dá principalmente pelo processo burocrático. “Para a comunidade propor um plano de manejo precisa ter esse documento. Sem a melhoria da qualidade de vida, sem a chegada das políticas públicas é impossível fazer a implementação das unidades de conservação”.

sábado, 20 de outubro de 2012

Intercâmbio de gestores


Seminário reúne gestores de unidades de conservação da Amazônia para discutir e propor ações sobre gestão participativa

Por Maria Emília Coelho, assessora de comunicação do IEB

A participação da sociedade civil na gestão das unidades de conservação foi o tema central do
seminário “Gestão participativa de unidades de conservação no sul do Amazonas, nordeste de Rondônia e norte do Mato Grosso”, que reuniu neste mês gestores de mais de 20 áreas protegidas federais e estaduais de uso sustentável. A ideia do encontro, que aconteceu entre os dias 9 e 11 de outubro, no Centro de Formação e Cultura da Kanindé, em Porto Velho, foi promover a troca de experiências.  

O evento, organizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), contou com a participação de coordenadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e do Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) do Amazonas, além de técnicos da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da Secretária do Meio Ambiente (SEMA) do Pará.

“A realização do seminário está relacionada às diversas iniciativas de parceria do IEB com o ICMBio e o CEUC. A ideia é promover um espaço de discussão e reflexão, criando um ambiente de aprendizagem coletiva”, explicou Henyo Trindade Barretto, Diretor Acadêmico do IEB.  

“A gestão participativa não é uma forma de gestão, é uma obrigação legal. As UCs não são do ICMBio, são da sociedade. A participação social não é só através dos conselhos, tem que estar na criação das UCs, nos planos de manejo, nos licenciamentos ambientais”, disse a analista ambiental do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, Aline Polli, durante sua apresentação no primeiro dia do evento.

A analista  também explicou que o ICMBio vem investindo na formação dos gestores há três anos através do curso Ciclo de Capacitação em Gestão Participativa, e que a proposta agora é batalhar para o fortalecimento das bases com capacitação dos atores sociais e formação de novas lideranças comunitárias: “Os conselhos não podem ficar no papel. Nosso desafio é fazer eles funcionarem de verdade”

O subcoordenador do CEUC, Francisco Pinto, apresentou o Programa de Monitoramento da Biodiversidade e do Uso de Recursos Naturais em Unidades de Conservação Estaduais do Amazonas (ProBUC), que conta com a participação dos comunitários na coleta dos dados: “O desafio é trabalhar a base organizacional e conseguir mais recursos para fiscalização e gestão participativa. A meta do órgão estadual é triplicar o número de Agentes Ambientais Voluntários (AAV) até 2014.

Após as apresentações das instituições de governo, os participantes foram divididos em grupos temáticos com o objetivo de qualificar a discussão em assuntos prioritários: Gestão participativa; Manejo de Recursos Naturais; Vigilância e Fiscalização, e Povos e Territórios Indígenas.

Cada grupo, que contou com a assessoria técnica de consultores do IEB, refletiu sobre algumas questões: Por que esse tema é importante para a gestão participativa? Quais são os problemas? Quais as causas? E quais as consequências desses problemas para o futuro das UCs?

No segundo dia do evento, o debate seguiu com a ideia de como viabilizar a gestão participativa nas unidades de conservação. Quatro perguntas foram colocadas para os grupos temáticos: Quais as propostas de encaminhamentos? Quais são os aspectos legais, normativos e institucionais? Que atores podem influenciar esse processo? E quais as ações prioritárias?

Para Josinaldo Aleixo, consultor do IEB, a convivência de três dias entre os estaduais e os federais, o pessoal do Pará e a Funai, “foi muito bom para se conhecer as complexidades de cada um. Se os problemas são muito parecidos, as soluções também podem ser”. Ele também sugeriu que os órgãos invistam nesses encontros juntando os gestores duas, três vezes por ano para trocar figurinha e compartilhar soluções .

O indígena Nilcélio Rodrigues Jiahui, conselheiro da Floresta Nacional de Humaitá, que também foi convidado para o debate, disse  que pediu para participar para entender melhor o que é gestão e qual a participação dos comunitários nesse processo: “É uma experiência nova para mim e vou tentar reproduzi-la para os povos indígenas da região”.

A indigenista especializada da Coordenação Médio Purus da FUNAI, Paula Wolthers, sugeriu que em um próximo evento seja discutido alguns estudos de casos, e também usar a Reserva Extrativista Médio Purus e sua questão indígena como um projeto piloto. 

“Esse espaço é bem positivo e a gente espera dar continuidade a esse diálogo e a comunicação mais próxima com os nossos gestores e com os nossos parceiros. Daqui estão saindo algumas ideias de intercâmbio”, disse Iranildo Cursino Siqueira, chefe da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no Amazonas, no encerramento do evento.

Ao final do seminário, foi formada uma comissão de animação com representantes
das diferentes instituições presentes, com a proposta de manter o grupo mobilizado para a troca de informações e a retomada dos encaminhamentos.

O IEB se comprometeu a produzir uma publicação que trará o registro das memórias, ideias e propostas levantadas durante os três dias de discussão. “A intenção é formar opinião e influenciar eventuais tomadas de decisão”, completou Henyo Barretto.

O seminário fez parte das atividades do projetos “Fortalecimento Institucional das Unidades de Conservação situadas na Área de Influência da BR-319 e “Conservação da Biodiversidade em Terra Públicas”, que contam respectivamente com o apoio financeiro da Fundação Gordon & Betty Moore e da USAID (Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional). 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

IMPUNIDADE: Continua a devastação no Sul do Amazonas

 "Não dá para contar a enorme quantidade de castanheiras queimadas, é um "holocausto ambiental" ali onde há fartura delas"
 
 
 
Continua a devastação no Sul do Amazonas. Fazendeiros e madeireiros de comum acordo tiram a madeira e depois incendeiam literalmente a floresta. Acabado o fogo se semeia capim. "Estão acabando com as florestas ali no Sul de Lábrea" relatam testemunhas, No local tem acesso por Vista Alegre de Abunã distrito de Porto Velho RO, já nas proximidades do Acre. " Não dá para contar a enorme quantidade de castanheiras queimadas, é um "holocausto ambiental" ali onde há fartura delas. O que fazer além de denunciar, denunciar e ficar com uma raiva desgraçada?" Se bem que o IBAMA apreendeu muita madeira depois de nossas inúmeras denúncias e lá, onde foi jogada deve apodrecer, ou são inutilizadas por funcionários.

Assentamento florestal com dificuldades.
Assim mais de 200 toras de madeira roubada de um assentamento próximo forma picadas, sem deixar que a madeira fosse aproveitada pelos assentados. Criado sob a liderança de Adelino Ramos, assassinado em 2011, o Assentamento Florestal Curuqueté, está situado dentro do estado de Amazonas, a 70 k, de Vista Alegre do Abuná, sofre com grandes dificuldades.
O assentamento florestal planeja desenvolver o aproveitamento dos produtos da floresta, admitindo apenas o desmatamento para pequenas roças de subsistência.

Enquanto a devastação de grileiros e madeireiros continua no entorno do assentamento, o mesmo enfrenta muitos problemas para ir para frente. "Existe muita dificuldade para as famílias chegar e sair de lá. Os acampados só têm para comer caça e algumas coisas que conseguiram plantar até agora. Há muita desistência no PAF, a maioria das famílias foram embora e chegaram outras. Não há escola, não há energia, não há estrada, não há um carro, moto, bicicleta, cavalo, jegue pra ir até Vista Alegre do Abunã que fica a 70 km" . As únicas caronas são os caminhões carregados de toras. "Quando necessitam ir até Vista Alegre às vezes esperam dias um caminhão de madeira".


Comercio ilegal de madeira, um problema mundial
No centro dos problemas sociais e ambientais do Sul do Amazonas, o comércio ilegal de madeiras assola toda a Amazônia e outras regiões do planeta.

Segundo informações, o comércio de madeira extraída ilegalmente na Amazônia, na África Central e no sudeste Asiático movimenta de US$ 30 bilhões a US$ 100 bilhões por ano e é responsável por até 90% do desmatamento de florestas tropicais no mundo. O alerta foi feito ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Interpol, durante a divulgação do relatório Carbono Verde: Comércio Negro.

De acordo com o levantamento, de 50% a 90% da exploração madeireira nos países daquelas três regiões é realizada pelo crime organizado, respondendo por até 30% do comércio global. A atividade, aponta o relatório, conta tanto com velhas táticas, como suborno e falsificação de licenças, quanto com tecnologias mais modernas de invasão de sites do governo. No total, foram descritas 30 formas de obtenção de madeira e "lavagem" de madeira ilegal.Casos assim foram identificados no Brasil. Em 2008, diz o trabalho, hackers que trabalham com madeireiros ilegais no Pará conseguiram acessar as licenças de corte e transporte de madeira, possibilitando o roubo de 1,7 milhão de metros cúbicos de floresta. A história envolveu 107 empresas, que acabaram sendo processadas em US$ 1,1 bilhão.
De acordo com a Interpol, a retirada ilegal de madeira está associada também ao aumento de violência em geral, assassinatos e agressões a populações indígenas. A Polícia Internacional alerta que é necessário um esforço global coordenado para lidar com o problema.
"A exploração madeireira ilegal pode minar esse esforço, roubando as chances de um futuro sustentável de países e comunidades" afirmou o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, durante a divulgação do relatório.

Fonte: Blog da CPT Rondônia

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Diálogo e esperança


Lideranças extrativistas cobram e Grupo de Trabalho é criado para acelerar a regularização fundiária de Unidades de Conservação no Amazonas

Por Maria Emília Coelho, assessora de comunicação do IEB

O movimento social cobrou e as instituições governamentais tiveram que dar uma resposta. Ou melhor, uma esperança. Essa foi a tônica da reunião intitulada “Diálogo Amazonas: regularização fundiária urgente”, que reuniu lideranças extrativistas, diferentes órgãos do governo federal e estadual, e Ministério Público Federal, no dia 14 de setembro. Após muita discussão, foi criado um Grupo de Trabalho com o objetivo de acelerar o processo de consolidação territorial das Unidades de Conservação federais de uso sustentável do Amazonas.

No evento, realizado no Parque Municipal do Mindu, em Manaus, e organizado pelo Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), Comissão Pastoral da Terra (CPT), e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), estavam lideranças extrativistas de Unidades de Conservação (UCs) das regiões do Baixo Rio Negro, Médio Solimões, e Sul do Amazonas: Florestas Nacionais Purus, Tefé e Mapiá-Inauini, e Reservas Extrativistas Arapixi, Médio Purus, Ituxi, Auati-Paraná, Juruá, Médio Juruá, Rio Unini e Capanã Grande.

A mesa foi composta por representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), do Instituto de Terras no Amazonas (ITEAM), do Programa Terra Legal, além dos procuradores do Ministério Público Federal no Amazonas.

A regularização fundiária é o gargalo para se alcançar a efetiva implementação das UCs no Brasil. Grande parte não tem sua situação fundiária resolvida. “É uma das agendas mais essenciais. Não tem como falar em unidade de conservação se não tem regularização fundiária em sua plenitude”,  explicou João Arnaldo Novaes, diretor do ICMBio, no evento.

A partir de mapas confeccionados pela Cooperação Técnica Alemã (GIZ), as lideranças do Amazonas expuseram a situação de 13 UCs, que somam quase cinco milhões e meio de hectares, e que têm problemas fundiários comuns: presença de terras estaduais, títulos privados em áreas com presença de comunidades tradicionais, a existência de terras federais não destinadas, como as do Terra Legal, e sobreposição de terras indígenas e UCs de proteção integral.

As comunidades que vivem nestas aéreas, cuja ocupação é anterior à criação das UCs, ainda não obtiveram a concessão da Cessão de Direito Real de Uso (CDRU), o tão sonhado documento que legitima o uso sobre a terra, dando direito à moradia, à utilização dos recursos conforme plano de uso, e às políticas públicas de crédito.

Manoel Cunha, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), explicou que  a necessidade da regularização fundiária se dá principalmente pelo processo burocrático. “Para a comunidade propor um plano de manejo precisa ter esse documento. Sem a melhoria da qualidade de vida, sem a chegada das políticas públicas é impossível fazer a implementação das unidades de conservação”.

O problema reflete a lentidão da gestão pública na obtenção de informações básicas para o processo. Não há uma base de dados única que permita ações conjuntas entre os órgãos federais e estaduais de terras. A inexistência de um cadastro fundiário nacional, confiável, e atualizado, induz à ocorrência de grilagem. “É inconcebível que no momento atual exista tal grau de esquizofrenia entre as instituições públicas que tem responsabilidade sobre a regularização fundiária ”, criticou Henyo Barretto, Diretor do IEB.  

Conflitos no Sul do Amazonas

Na Reserva Extrativista Médio Purus, em Lábrea, no Sul do Amazonas, e onde estão 97 comunidades com cerca de 1.300 famílias, a situação é uma das mais problemáticas. A área com maior potencial de manejo de castanha da RESEX, a do seringal Lusitânia, está sob domínio de um “patrão” que há décadas obriga as comunidades ribeirinhas a pagar-lhe a renda.  

As 50 famílias do lugar vivem até hoje em um regime de escravidão por dívida, conhecido desde a época da borracha como “sistema de aviamento” e “patronagem”.  “É um fato sério e a regularização fundiária é fundamental para que essas pessoas se libertem”, colocou Quéops Melo Silva, da CPT de Lábrea, durante o debate.

O presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio Purus (ATAMP), José Maria Ferreira, que sofre ameaças de morte desde 2008, quando foi criada a RESEX, disse que “a associação tem 52 mil reais em créditos do INCRA, mas que estão presos em conta bancária e pela falta de documento”.

As lideranças de Lábrea também colocaram a situação conflituosa da Reserva Extrativista Ituxi, onde há menos de um ano chegou uma empresa do ramo imobiliário de São Paulo, chamada Tivoli, dizendo que é proprietária de 117 mil hectares de terras, e mostrando uma autorização do ICMBio para entrar na área das comunidades.

Francisco Duarte, vice presidente da  Associação de Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (APADRIT), contou que quando o topógrafo contratado pela empresa chegou para fazer a demarcação, sem consultar as comunidades, e sem gestores do ICMBio, um dos comunitários disse: “Para o senhor fincar algum marco aqui vai ter que me matar primeiro”.

Encaminhamentos

Durante a mesa de diálogo, o presidente do ITEAM, Wagner Santana,  apresentou a nova lei de terras estaduais, promulgada no dia 29 de agosto deste ano, e entregou ao Diretor do ICMBio a primeira versão do Termo de Cooperação Técnica (TCT), que deve ser assinado entre as duas instituições. O representante do estado do Amazonas explicou que o objetivo do termo é o intercâmbio e a sistematização de dados, e a realização de um Plano de Trabalho em conjunto.

Patrícia Cardoso,  Coordenadora-Geral da Amazônia Legal da SPU, trouxe a agenda do projeto “Nossa Várzea: Cidadania e Sustentabilidade na Amazônia”, prometendo para novembro deste ano o início dos trabalhos de cadastramento em campo no município de  Boca do Acre, no Sul do Amazonas.

O projeto regulariza a situação de famílias ribeirinhas que vivem nas áreas de várzeas dos rios amazônicos, utilizando o Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS). Este instrumento legal se aplica exclusivamente às comunidades tradicionais ribeirinhas. A coordenadora da SPU também afirmou que as Unidades de Conservação priorizadas para a regularização fundiária são as FLONA Purus, Balata-Tufari e Humaitá e a RESEX Ituxi.

Após muito debate, o procurador da República, Leonardo Andrade Macedo, sugeriu que o MPF lidere um Grupo de Trabalho formado por representantes dos órgãos de terras, do movimento social, do CNS, da CPT e do IEB. O objetivo do GT é elaborar um Plano de Trabalho com metas, responsabilidades e prazos, que será o objeto de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Todos concordaram, ficando definido que a primeira reunião do grupo  acontecerá no próximo dia 10 de outubro.

Para o procurador no Amazonas “a questão fundiária das comunidades tradicionais é uma questão ambiental. A preservação do meio ambiente depende necessariamente que as comunidades continuem nos seus espaços”.

“Temos que transformar esse GT em uma vitória política”, disse Josinaldo Aleixo, consultor do IEB, destacando que outro grande passo conquistado durante o evento foi a consolidação do coletivo de lideranças extrativistas das UCs ali presentes em um fórum para acompanhar todo esse processo. Josinaldo propôs que o Plano de Trabalho do GT seja apresentado na próxima reunião do fórum daqui a 90 dias.

Ao final da mesa de diálogo, o presidente do CNS Manoel Cunha concluiu: “Esse GT nos trouxe muita esperança. É um começo importante para sairmos dessa situação que vivemos há pelo menos 30 anos, que é o sofrimento pela falta da garantia da terra”.


Para conferir o vídeo com depoimentos feitos durante o evento clique aqui

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Kaxarari: Ministro do STF suspende decisão de primeiro grau que ampliou reserva indígena

O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, mandou suspender as atividades de grupos técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) destinadas a ampliar a área da Terra Indígena de Kaxarari, na Amazônia. A decisão liminar foi proferida em reclamação apresentada pelo Município de Lábrea (AM) contra decisão do juízo da 5ª Vara Federal Ambiental e Agrária de Rondônia, que determinou à Funai a revisão e ampliação da reserva, situada entre Lábrea e Porto Velho (RO).

Para o ministro, é “evidente a insegurança jurídica” gerada pela atuação do grupo administrativo instaurado pela Funai visando à nova demarcação. “Além do potencial risco de conflito fundiário entre índios e produtores rurais, existe inegável prejuízo aos investimentos em atividades produtivas praticadas há décadas, à ordem no território e às finanças do município”, afirmou.

Demarcação

De acordo com a reclamação, a reserva indígena foi criada em 1986 e ampliada em 1992. Em 2008, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública visando a uma segunda ampliação do território, alegando que a demarcação anterior não teria observado as determinações do artigo 231 da Constituição, que trata das terras indígenas.

A juíza da 5ª Vara Ambiental determinou que a Funai iniciasse e concluísse o processo de revisão e ampliação da reserva. A fundação, embora recorrendo da decisão, criou, em abril de 2012, por meio de portaria, um grupo técnico com essa finalidade.

Para o município, a ampliação poderia estender o território indígena “para praticamente toda a extensão rural do município”, e afetaria “drasticamente” sua população e sua receita. Afirma que existe em Lábrea um rebanho estimado em mais de 349 mil cabeças de gado, equivalente a mais de 20% do rebanho do estado do Amazonas, e que a atividade agropecuária representa 63,59 % do PIB e 35,79% dos empregos do município.

Além do impacto econômico — que deixaria “a população majoritária e menos favorecida à beira da miséria” — o município alegou que a ampliação pode acirrar os ânimos na região, “com o surgimento de conflitos e distúrbios a envolver índios, pessoas ligadas a organizações não governamentais e os proprietários e possuidores de terras”, o que recomendaria “a máxima prudência nesse tipo de caso”.

O ministro Marco Aurélio, além de suspender os efeitos da portaria da Funai que instituiu os grupos de trabalho e a sentença proferida pelo juízo da 5ª Vara Federal Ambiental e Agrária de Rondônia, o ministro determinou a suspensão dos processos administrativo e judicial que tratam da questão até a decisão definitiva, no mérito, do STF.